Certa noite decidimos comer outra coisa ao invés do tradicional churrasco coreano. Tentamos entrar em um restaurante descolado, ao que o garçom suplicou: Aqui servimos booldak, é muito apimentado para estrangeiros! Ora, estamos na Coréia mesmo, disse meu colega japonês. Tudo é ardido por aqui. Vamos nessa!
Provamos uma sugestão dada pelo garçom assustado, mas não estava nada ardido. Eram cubos de frango grelhados com molho, e condimentos, com queijo derretido. Não colocamos nenhuma pimenta para vocês, confessou o rapaz. Então nos traga o prato normal, ué - ordenamos.
Ah, se meu estômago falasse... Deve ter sido a coisa mais apimentada que já experimentei na vida. Depois do booldak, a porção apimentada de kimchi que acompanhava se tornou uma simples saladinha, a cerveja se tornou água. Meu colega japonês estava ensopado, num misto de suor com lágrimas que vertiam de seus olhos em chamas. Acho que eu também estava nas mesmas condições...
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Ganbarê (Vamos nos esforçar!), dizia meu colega. Mas conseguimos dar conta apenas de meio prato, ao que ele disse cabisbaixo: Maketá (fomos derrotados)...
Depois dessa sessão de masoquismo-gourmet, fui conferir o modo de preparo do booldak: pega-se filé de frango grelhado, corta-se com uma tesoura em pedacinhos. Cada pedacinho é envolto em uma graxa, uma pasta avermelhada que fica em uma bacia. Leva-se ao fogo. A graxa derrete um pouco e cai no fogo, provocando labaredas enormes. A tal da graxa é um verdadeiro combustível!
O nosso amigo garçom ficou até feliz que comemos meio prato. Ele ainda nos avisou que tem uma filial da loja aqui no Japão, em Shibuya, caso quiséssemos repetir a dose em casa. Eu hein.
Contamos nossa aventura para nossos colegas da filial coreana no dia seguinte, e eles não conseguiam acreditar. Nem coreanos comuns conseguem encarar o booldak. A tradução para booldak: frango-de-fogo.
Vivendo e aprendendo...